[carta 003] a última canção de Mariposa

#freeMariposa

Eu conheci Mariposa à noite, em um de seus shows. Ela tinha esse ar de estrela decadente que te faz ficar imediatamente hipnotizado e uma voz que só podia ser algo divino. Conhecê-la foi fácil. Mariposa era uma cantora como muitas outras, talentosa, sublime, mas com um casamento péssimo e a mídia em seu encalço. Qualquer jornal em Águas Claras podia dizer isso. Como ela era ingrata pelo apoio do ex-marido (mais sobre isso à frente) e a ousadia de trocar o estrelato pelo pub no centro de Águas Claras.

Alguns, obviamente, questionavam seu talento. É comum dizer que uma mulher como ela não chegaria onde está se não fosse pelo apoio financeiro de Mário Morelli, o homem foi, afinal de contas, quem mais financiou sua carreira. Mariposa era (e ainda é) para todos os efeitos uma artista como outras: ingrata, louca, interesseira. Se ela canta no Duplo A é única e exclusivamente por causa dos amigos — Anabelle e Antônio — e donos do estabelecimento. Não importa que sua voz seja etérea, assombrosa, encantadora. Não importa que o seu sucesso já existia antes de Mário Morelli e sua fortuna. O talento tampouco importa.

Mariposa é um pouco do reflexo do que ainda se vê por aí, todos os dias.

Quando eu conheci Mariposa, acordei assombrada. O movimento #freeBritney estava no auge pelo Twitter e eu lembrava de quantas outras cantoras foram demonizadas pela mídia. São tantas que parece injusto citar os nomes, no medo de esquecer alguma, mas agora eu penso em Amy Winehouse, Whitney Houston e Elza Soares. Também foi pouco antes (ou depois, minha memória é péssima) que teve todo o rolo entre Grimes e Elon Musk e se você chegou nessa newsletter pelo meu twitter, como acho que chegou, deve saber que eu tenho uma única opinião sobre bilionários: a de que eles não deviam existir.

Eu não conheci Mário Morelli, afinal conheci Mariposa apenas depois do desaparecimento do ex-marido que insistia em mantê-la sob cativeiro, mas a gente conhece tipos como ele. Vê jornais noticiando sobre eles. Caras tão ricos que podem construir uma ilha, ou ter por passatempo construir um foguete. Gente com tanto dinheiro que podem patrocinar golpes de estado em países apenas para matar o tédio. Essa gente que devia ser guilhotinada, sabe? Ou no mínimo destituída de suas fortunas.

Mas isso é uma outra conversa.

Mariposa se casou com Mário ainda muito nova, recém-chegada a essa ilha que prometia ser o paraíso, mas ela já sabia que não era. Nos cinco anos seguintes ela foi uma esposa exemplar e há mais 5 anos tentava se divorciar. O problema é que Mário não queria perdê-la, não sei o porquê. Me espanta a ideia de querer estar com alguém que não te quer. Talvez ele fosse carente e desesperado. Talvez enxergasse nela outra empreitada lucrativa. Quem liga? O fato é que ele a aprisionou. A cantora queria o divórcio e tentou várias vezes o caminho legal. Mário travou o processo todas as vezes.

Então ele desapareceu. Sabe-se-lá pra onde, o fato é que ele não é mais um empecilho.

O problema é que agora Mariposa é suspeita e eu só consigo pensar que ela não merece isso: a mídia, a polícia, a perseguição. Que ela possa retomar a vida.

E se ela é herdeira? Bem, que doe tudo, ou empilhe o dinheiro e queime. É um bilionário a menos, a gente anda precisando disso.

Mas você pode descobrir mais dessa história aqui. Aproveita que tá no precinho. Infelizmente, nenhum bilionário do mundo real foi ferido na produção dessa história, mas a gente pode sempre sonhar ;) 

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